Eduardo R. Hickel, DSc Entomologia
Epagri - Estação Experimental de Itajaí
Nesta safra (2018/19), um surto de grandes proporções da cigarrinha-do-arroz, mais conhecida por “sogata”, foi constatado nos municípios do litoral sul paranaense, incluindo Guaratuba, na divisa, e em Garuva, em Santa Catarina.
A sogata, Tagosodes orizicolus (Müir) (Hemiptera: Delphacidae) é uma importante praga do arroz no norte da America do Sul (Colômbia, Venezuela e Perú) e no Caribe (Cuba) e, embora a espécie ocorra no Brasil, não é considerada praga importante no país. Sujeito à forte pressão de controle biológico natural, esse inseto não consegue formar altas populações no Brasil.
Conhecendo a sogata
Os adultos de sogata são pequenas cigarrinhas, com dimorfismo sexual (Figura 1). As fêmeas medem de 3 a 4mm de comprimento e são de coloração castanho-amarelada, podendo possuir asas ou viverem com asas rudimentares e não funcionais (fêmeas braquípteras). Os machos são menores (2 a 3mm de comprimento) e de coloração preta. Em ambos os sexos, há uma faixa mediana dorsal de cor clara na cabeça e no tórax. Os ovos são postos em grupos de 8 a 20 no interior da nervura principal e incubam por 3 a 5 dias. As ninfas são branco-amareladas, ápteras e com duas faixas escuras dorso-longitudinais. A fase ninfal varia de 18 a 15 dias, sucedendo-se as gerações em cerca de 20 dias.

Figura 1. Fêmeas aladas e braquípteras e macho de sogata
em folha de arroz. Fonte: FLAR
Danos
A sogata suga a seiva do arroz, nas folhas, talos e panículas. Isso causa o amarelecimento e posterior seca das partes verdes da planta, com perdas significativas na produção em caso de infestação severa. A excreção do excesso de seiva sugada leva ao desenvolvimento de fumagina nas folhas (Figura 2) e atração de muitos dípteros muscoides. Contudo, a importância da sogata não reside apenas no dano direto que o inseto pode causar, mas principalmente na transmissão do vírus da folha branca, doença que ainda não foi constatada no Brasil. Incidindo nos estágios iniciais da lavoura, o vírus da folha branca compromete gravemente o desenvolvimento e posterior floração das plantas atacadas.
Figura 2. Lavoura infestada por sogata.
Plantas com fumagina nas folhas
Analisando a problemática
As causas que levaram ao surto de grandes proporções nesta safra podem ser diversas, porém de âmbito macrorregional. A reprodução da sogata é favorecida por tempo seco e o mês de janeiro foi particularmente seco esse ano.
Há que se supor também alguma quebra do controle biológico natural, quer devido ao tempo seco ou outros fatores. Os principais agentes de controle biológico são os fungos (metarrízio principalmente), vespinhas parasitoides e aranhas. Epizootias de metarrízio são desfavorecidas em tempo seco e o excesso de aplicação de inseticidas, pode ter levado ao colapso das populações de vespinhas e aranhas.
Expectativa para a próxima safra
Num cenário otimista, o controle biológico natural se re-estabelecerá, justamente em resposta às elevadíssimas populações do inseto. Isso fará retornar o equilíbrio natural entre presa/ predador, impedindo que surtos de sogata ocorram novamente.
Num cenário pessimista, o surto populacional foi de tamanha proporção que, mesmo o controle biológico se re-estabelecendo, não será mais suficiente para retornar ao equilíbrio anterior e as populações de sogata passarão a um novo patamar de ocorrência. Isso pode tornar o inseto em praga frequente e permitir seu alastramento para outras regiões orizícolas catarinenses.
Independente do cenário, a próxima safra exigirá vigilância extrema para a ocorrência da sogata. Medidas de monitoramento em lavoura deverão ser implementadas a partir do perfilhamento, para constatar os possíveis primeiros indícios de crescimento populacional. Estratégias de controle também deverão ser planejadas e deixadas de prontidão.