Maçarico-preto nas lavouras de arroz irrigado

Fato que tem ocorrido nos últimos anos nas lavouras de arroz irrigado, e que tem preocupado os produtores, é a presença de uma ave preta com bico curvo, cujos bandos têm aumentado substancialmente. Conheça um pouco mais sobre esta ave na matéria postada abaixo e preparada pelo pesquisador Eduardo Rodrigues Hickel da Epagri – Estação Experimental de Itajaí.

Uma “ave preta com bico curvo” pode fazer alusão a duas espécies muito parecidas e pertencentes à família Threskiornithidae, da ordem Pelecaniformes (Ciconiiformes em parte): o maçarico-preto e a caraúna-de-cara-branca.
Seus parentes mais próximos são os guarás (Eudocimus ruber) e as curicacas (Theristicus caudatus), que também apresentam o bico longo e curvado para baixo.

Maçarico-preto Maçarico-preto é nome comum para a espécie Phimosus infuscatus (Lichtenstein, 1823), cujo nome científico vem do grego: phimosus, phimus, phimos = focinho; e do latim: infuscata, infuscatus, infuscus = escuro, enegrecido, ou seja, ave escura com focinho ou ave negra com focinho.
Por ter ampla dispersão no território nacional, o maçarico-preto recebe vários nomes populares, como tapicuru-de-cara-pelada, tapicuru-preto, maçarico-de-cara-pelada, maçarico-do-banhado (no sul), chapéu velho e até frango-d'água (no Pantanal). Em inglês é conhecido como Bare-faced Ibis.
O maçarico-preto mede de 46 a 54cm de comprimento e pesa cerca de 575g. Apresenta um bico longo e curvado para baixo, cuja cor varia de amarela-alaranjada até amarela-viva, contrastando com a plumagem negra com reflexos verde-azulados. A cara é também alaranjada. Acontece porém que, devido a ave se alimentar nos lodaçais, o bico e cara acabam ficando enegrecidos pela lama.
Ninho de maçarico-preto De outubro a janeiro, os casais costumam se isolar temporariamente do bando para procriar. Constroem o ninho nos juncais, onde colocam de dois a cinco ovos azulados, que incubam por 23 a 24 dias. Os filhotes tem a primeira plumagem pardo-escura, quase negra, atingindo o tamanho do adulto em torno de um mês após a eclosão.
A dieta do maçarico-preto inclui caranguejos, pitus e outros crustáceos, caramujos, bivalves e outros moluscos, minhocas e outros vermes, insetos e inclusive matéria vegetal (sementes e folhas). Nos banhados e várzeas, procura alimento na água rasa usando o bico para isso, enquanto caminha lentamente. Pode também se alimentar em terra firme, furando o solo com o bico, porém sempre próximo de locais com água.
Bando de maçarico-preto
A ave vive em bandos em brejos, margens de rios, banhados e campos recentemente arados. Dormem em áreas abertas pousadas no solo, ou em árvores. No Pantanal, se reúnem em bandos enormes, voando alto para o local de repouso. Pela manhã já estão espalhados, atrás de comida.
A distribuição geográfica da espécie inclui o Brasil, a Argentina, a Bolívia, a Colômbia, o Equador, a Guiana, o Paraguai, o Suriname, o Uruguai e a Venezuela. No Brasil, ocorre nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Goias, Bahia e Minas Gerais.
Não se sabe ao certo se a espécie é migratória, porém o deslocamento de indivíduos em função de estações secas pode ocorrer, como no pantanal mato-grossense.

Caraúna-de-cara-branca é nome comum para a espécie Plegadis chihi (Vieillot, 1817), cujo nome científico vem do grego: plëgados, plegadis = em forma de foice, falciforme; e chihi = onomatopeia francesa para o som emitido por este pássaro, ou seja, ave com bico falciforme que pia “chihi”.
O nome comum da espécie prevalece por todo o território nacional. Em inglês é conhecido como White-faced Ibis.
A caraúna-de-cara-branca mede de 43 a 65cm de comprimento e pesa cerca de 610g. Apresenta um bico longo e curvado para baixo, de cor cinza-escura. A coloração da plumagem é castanho-escura com lustro verde-metálico, porém adquire tom purpúreo-metálico no dorso, asas, cabeça e pescoço na época reprodutiva, quando as pernas cinzentas também ficam avermelhadas. Uma borda de penas brancas cerca a pele facial que é de uma cor entre rosada e vermelha.
Os hábitos reprodutivos, alimentares e comportamentais são muito semelhantes ao do maçarico-preto, onde ambas as espécies coexistem. A caraúna-de-cara-branca também se alimenta de peixes e pequenos anfíbios e pode nidificar em árvores.
A distribuição geográfica da espécie inclui o Brasil, a Argentina, o Peru e o Chile. No Brasil ocorre nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A caraúna-de-cara-branca também ocorre no México e nos Estados Unidos, onde é espécie migratória. Na América do Sul as populações são endêmicas.

Além destas, também pode estar ocorrendo uma terceira espécie nas lavouras: o coró-coró ou caraúna, Mesembrinibis cayennensis (Gmelin, 1789), cujo aspecto da ave é muito semelhante ao das outras duas espécies. Contudo, o coró-coró é uma espécie de borda de mata, que não constitui grandes bandos.

O aumento populacional destas aves está relacionado ao sucesso reprodutivo das espécies, resultante da fartura de alimento e áreas para alimentação e da aparente falta de predadores nessas áreas. Para essas espécies, a maior predação ocorre durante a nidificação, sendo ovos e filhotes caçados por vários predadores. Depois de adultas, essas aves têm poucos predadores.
Por serem constituintes da fauna silvestre, qualquer proposta de manejo das populações terá que estar respaldada pelos órgãos ambientais competentes, como a Fatma e o Ibama.

Mais informações, consulte:
Wiki Aves. http://www.wikiaves.com.br
Aves Catarinenses. http://www.avescatarinenses.com.br
Planet of Birds. http://www.planetofbirds.com